A
mesa estava posta. Os dois filhos aguardavam,inquietos, enquanto a mãe, ia e voltava
da copa para a janela da sala que dava para a rua.
Clara achou melhor, que não esperassem mais
pelo pai.
Sempre acontecia assim aos domingos. Aquela mesa arrumada com muito carinho, toalha
branca, travessas, flores, tudo o que de
melhor uma mulher é capaz de fazer para
agradar seus filhos e seu marido. Porém uma expectativa que sempre frustrava aquela linda mulher .
Almoçaram
silenciosos.
Clara
serviu a sobremesa. Um sabor amargo, não deixou que ela a saboreasse com
gosto. De Vez em quando, os meninos viam
lágrimas no rosto da mãe. Foram para a
sala de TV.
Após
algum tempo, ouviram a freada brusca do
carro do pai que voltava sabe-se lá de onde, mas com certeza de algum bar. Por mais que a situação se repetisse, a
família não se acostumava, e era sempre motivo para sentirem o coração
apertado, como se algo faltasse para preenche-los de vida.
Clara
era uma mulher recatada e acreditava que um dia aquela situação
pudesse reverter-se e muitas vezes calava-se para não tornar o ambiente desagradável aos filhos,
mesmo quando Fábio, seu marido, sem
motivo algum, a não ser pelo pior deles, o de estar embriagado, criasse um
conflito, algo que ela mais temia. Assim o tratava como se nada tivesse
acontecido, amparando-o, escutando suas
repetidas conversas, palavrões, risos e até choro. Uma transformação de água
para vinho, que nesses momentos ela preferia engolir e sufocar. Logo ele caia em sono profundo e acordava outro homem, o mesmo por quem se apaixonara.
Mais uma decepção, e as carinhas de tristeza
cortava o coração da mãe. Há muito não
se divertiam juntos. Deixaram de
comparecer em vários compromissos, entre
eles, festas de aniversário, datas de
comemorações religiosas e escolares de grande importância e quando compareciam, eram acompanhados apenas pela
mãe.
Na sala as crianças assistiam à um filme. Fábio
entrou sem sequer cumprimentar os filhos. Mudou o canal de forma brutal.
O mais velho resmungou :
O mais velho resmungou :
–
Poxa pai, estava no final do filme!
E
o mais novo teve a infeliz ideia de dizer:
-É
pai já estava no epilógo.
Fábio
voltou-se para os filhos, furioso.
-Por que acham que eu vou perder o futebol, para
que vocês assistam a um filminho qualquer? - Além do mais, o que estão fazendo na escola, que eu pago tão caro, e não
aprendem a falar.- Não é epilógo é epílogo. Epílogo, entenderam?!
Os
meninos se encolheram assustados com a atitude do pai. Clara veio da sala ,
correndo e encontrou o marido furioso, esbravejando, gesticulando, para cima
dos filhos...
Foi a gota d´água. Seguro-o pelos braços, e
uma forte discussão começou entre os dois.
-Não
toque nos meus filhos. Disse ela ao
marido, colocando toda sua força na voz e nos braços. Desabafando sua
mágoa, falou de suas decepções, de sua carência, enfim de tudo o que perderam
juntos, em nome daquele vício que estava ganhando campo, comprometendo a
felicidade da família.
Caminharam
para o quarto do casal, ainda em discussão. Em determinado ponto, Fábio, atirou
o copo que até ali não largara, contra o espelho do armário. Calaram-se finalmente. Um silêncio doído, evocando outros sentimentos. Ele entrou no chuveiro. Pela primeira vez a mulher ousou desafiá-lo.
Clara olhou o espelho trincado.
Momentos
depois ela o observava, jogado na cama,
o braço estendido em direção ao chão, e como sentisse uma enorme pena, ajeitou-o para cima
da cama. Era um homem bonito apesar da idade. Sentia que ainda o amava muito e
sabia do amor dele por ela. Não
entendia, tanto sonho jogado fora. Antes era tudo diferente, eram um
casal perfeito. Sentia agora na face as lágrimas de medo, incerteza e de saudade.
Amanheceu.
O
sol vencia as cortinas e penetrava sutilmente no quarto, trazendo a claridade.
Pardais em bando, entoavam uma canção frenética, saudando a manhã.
O
espelho refletia como um mosaico a imagem do casal abraçado.
Nova trégua, na batalha entre o rancor e o amor.
Lourdinha Vilela
Noooossa, pobre mulher que se deixa vencer assim pelo amor. Mais ainda vai acontecer com ela e até, quem sabem com os filhos... beijos,chica
ResponderExcluirLourdinha,um conto muito bem escrito e uma situação que se repete em muitos lares,infelizmente! Eu adorei te ler! bjs,
ResponderExcluirPassando para deixar um grande abraço e desejar que sua sexta feira seja cheia de alegria.
ResponderExcluirBeijos
Ani
Oi, Lourdinha...é uma dura realidade que muitas famílias enfrentam...dolorosa e sem fim onde todos se machucam na alma.
ResponderExcluirUm abraço
Oi, Lourdinha...de fato, o alcoolismo é uma chaga social que causa muito sofrimento e infelizmente estimulada.
ResponderExcluirUm abraço
Oi, Lourdinha, conto que reflete a realidade do alcoólatra, uma família em destruição, um ser humano perdido, trauma nos filhos, frustração na mulher. É triste. Mas sempre termina mal se não for revertido o caso. Mas todos sabemos que é preciso muita força, apoio familiar e o 'querer a cura' do doente. Você narrou um quadro muito real, deu pena.
ResponderExcluirUm beijão, Lourdinha.
Que história triste , mas o que fazer,
ResponderExcluiré uma droga liberada e vendida em qualquer esquina.
bjs
http://eueminhasplantinhas.blogspot.com/
OI LOURDINHA!
ResponderExcluirQUE PENA!
UMA FAMÍLIA QUE PODERIA SER TOTALMENTE FELIZ, SE AMAM, MAS, UM VÍCIO QUE DEIXARÁ SUAS MARCAS, PRINCIPALMENTE NAS CRIANÇAS QUE NA CERTA SE TRAUMATIZARÃO COM ESTAS CENAS.
MUITO BOM, TRISTE E REAL TEU TEXTO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/